sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Carta de apoio aos Guarani Kaiowá

Nós do Núcleo de Estudos de História Oral – NEHO-USP, Núcleo de Estudos Históricos e Literários – NEHLI-IFRO, Núcleo de Estudos em Tecnologia e Educação – GET-IFRO e Sinasefe Porto Velho tomamos conhecimento sobre a história do Povo Indígena Kaiowá por meio do livro “Canto de morte Kaiowá”, resultado de um processo de trabalhos em colaboração por meio da história oral, realizado por pesquisadores do NEHO.

Nesse sentido, diante da carta que os Guarani Kaiowá compartilharam via internet colocando a sociedade nacional e internacional à par da situação limite em que vivem, declarando que não sairão do seu território tradicional mesmo com ordem judicial, fez nos relacionar essa situação ao processo de morte que eles vêm sofrendo ao longo da história, desde o contato com a sociedade não indígena e invasão de seus territórios que os levou a decidirem coletivamente a retomar o Tekoha, uma luta antiga que tem custado a vida de muitos da etnia.

Em nossos trabalhos defendemos o direito de todos poderem manifestar suas demandas de maneira livre e de construírem relações de pertencimento que garantam a possibilidade de viver com dignidade, cidadania e autonomia. Por isso, apoiamos a luta dos povos indígenas na retomada e defesa de seus territórios decidimos expressar publicamente nosso apoio aos Guarani Kaiowá em sua luta, bem como, trazer presente nesta carta alguns trechos da narrativa do Capitão Ireno construída em colaboração no processo de efetivação de história oral realizada na reserva Francisco Horta Barbosa em 1991, que foi impulsionado pela urgência de chamar a atenção para os direitos humanos desse Povo.

Por meio da narrativa do Capitão Ireno podemos entender quem são os Kaiowá e os Guarani:
- “Somos filhos de Ñhanderú e Ñhandesi e Ñhanderamouse é nosso protetor... é o protetor da mata... Kaiowá quer dizer filho da floresta, da madeira, da mata... Kaiowá é a natureza... protegido de Ñhanderamose... em Guarani a gente fala txe-dija-ri”...
- “Os índios sempre viveram bem entre si... índio Kaiowá sempre combinou com outros Kaiowá, nunca havia briga, nunca, nunca, nunca... Os Guarani são parentes dos Kaiowá... Guarani e Kaiowá são irmãos”...

 Os Guarani Ñandeva, (conforme a denominação apresentada no site  “Povos Indígenas no Brasil”: http://pib.socioambiental.org/pt/povo/guarani-nandeva/1298 ) denominam os lugares que ocupam de tekoha, que representa o lugar físico – terra, mato, campo, águas, animais plantas, remédios etc., onde se realiza o teko, o “modo de ser”, o estado de vida guarani.
O sentido do tekoha funde-se com o ser Kaiowá (Guarani Kaiowá) o que muda toda a relação com a terra. Eles não são da terra... Eles são a própria terra.  Tirá-los do tekoa é tirar suas próprias vidas. Não podemos ser indiferentes a esse processo de mortes dos Povos Indígenas causados pela omissão do Estado e da sociedade.

Aquele primeiro trabalho possibilitou o contato com este Povo Indígena e com o que ele tinha a dizer sobre si mesmo, mas também reforçou em nós o compromisso de ouvir e tornar públicas suas reivindicações. Sendo assim, nosso grupo de pesquisadores decidiu se posicionar e manifestar apoio aos povos indígenas que como os Kaiowá fazem de sua vida um ato de resistência. No momento, é central que os Guarani Kaiowá possam retomar sua terra para que possam retomar sua própria vida.

Pesquisadores do Núcleo de Estudos em História Oral, Universidade de São Paulo.
Pesquisadores do Núcleo de Estudos Históricos e Literários, NEHLI/IFRO;
Pesquisadores do Grupo de Estudo em Educação e Tecnologia, GET/IFRO;
Trabalhadores do SINASEFE – RO;
São Paulo, 09 de novembro de 2012.
Porto Velho, 09 de novembro de 2012




 

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